domingo, dezembro 18

À beira do abismo ...


A técnica de negociar à beira do abismo deu o que de pior se receava: Blair largou um bocado do «rebate», mas não todo; a pac manteve-se, sem ser modernizada; o investimento na agenda de Lisboa não se fez.
O resultado foi uma redução efectiva do orçamento de uma UE a 25, ou a 27.
A União saíu empobrecida, com menos meios para se afirmar e para aprofundar.
Mais uma perda de tempo.
É preciso ter paciência para tanta mediocridade!

quarta-feira, dezembro 14

Narrow mindedness ...


Blair apresentou o novo orçamento para a UE. Aumentou minusculamente o valor e manteve o rebate. Tem vistas curtas e ambições nenhumas. Age como primeiro ministro inglês e não como presidente (?) da União. Quer destruir a UE e substitui-la por uma EFTA. Acha-se um génio político.

Por este caminho, não vai haver orçamento, nem na presidência inglesa, que acaba amanhã, nem no futuro.
De Gaule tinha razão: os ingleses pensavam como se fossem os países europeus a querem entrar para a Commonwealth e não a Inglaterra a entrar para a Europa. Não os deixou entrar, e fez bem. Continua a ter razão: não os deviam ter deixado entrar.

Agora, não vale a pena continuar à espera. As alternativas políticas que existem na ilha são ainda piores. É melhor começar já a escolher os Países da Europa que sinceramente querem construir uma República da Europa, com uma moeda, uma democracia, uma constituição, um modelo social justo, uma defesa comum e uma diplomacia comum. Entre esses, deve ser celebrado um novo tratado.

Os outros podem aderir à Commonwealth... com os ingleses.

terça-feira, dezembro 13

PAC, OMC e o british rebate

A PAC não é uma política económica, é uma política social que visa subsidiar os agricultores de modo a conseguir - como conseguiu - que deixassem de formar cinturas de pobreza à volta das grandes cidades. Teve ainda o efeito de tornar a Europa auto-suficiente em alimentos e politicamente estável. Estes efeitos são bons - não são maus - e é imprescindível que se mantenham. Se acabar a PAC, a Europa deixa de ser auto-suficiente em alimentos e passa a ter de os importar dos USA, e daí a pressão americana. Além disso, fica sujeita à proletarização dos agricultores com a instabilidade política consequente, e daí a pressão dos seus rivais.

A tentativa de liberalização de todas as trocas na OMC tem uma carcaterística curiosa: nunca se viu tantos ricos com tanta pena de tantos pobres. Mas esta imagem é falsa. A liberalização das importações de açúcar, soja e carne do Brasil não vai fazer diminuir um único pobre nessa terra, mas antes enriquecer ainda mais a oligarquia latifundiária local (que logo tranfere para a Flórida o dinheiro que assim ganhar). Além disso, serve para permitir a deslocalização das indústrias trabalho-intensivas da Europa para locais com salários de escravatura, permitindo a re-exportação dos produtos para a Europa. É muita ingenuidade acreditar na bondade e no altruismo da liberalização do comércio.

Não há qualquer justificação para que se mantenha o «british rebate»: é imoral que o RU insista em não pagar o que deve e em ser fortemente subsidiado pelos mais pobres. Se Blair bloquear o orçamento da EU, como esta não pode viver sem orçamento, melhor será começar a pensar em viver sem o RU.

domingo, dezembro 11

A man of many budgets

Blair não sabe bem se está propor um orçamento para a UE na qualidade de presidente em exercício, ou na de primeiro ministro inglês, ou na de futuro passado líder do partido trabalhista. O resultado é pathetic! Agora vai apresentar outro.

He is a man of many budgets!

quinta-feira, dezembro 8

American soft power

O poder americano no mundo não vem só do aparelho militar. Vem também da propensão de tanta gente, fora da do seu território, para apoiar activamente as suas iniciativas, para controlar a informação e para formar a opinião nos outros países. Assim como a Alemanha do III Reich tinha os seus «colabos» em França e como os franquistas na guerra de Espanha, tinha a sua «quinta coluna» em Madrid, também os americanos têm, mais ou menos em todo o lado, desde dirigentes políticos a jornalistas, de académicos a militares e polícias, que pensam americanamente, que agem de acordo com o que lhes parece ser a doutrina americana.
Já nem dão por isso, tal é o hábito.
Isto é o american soft power. Sem ele, nunca teriam podido sobrevoar, aterrar e descolar, no estrangeiro os aviões da CIA, nunca poderia ter feita as «extraordinary renditions», nunca poderia ter feito o «outsorce da tortura».
Nem precisam de os pagar: eles são pagos pelos outros.

domingo, dezembro 4

Extraordinary rendition

É assim que se chama a prática da CIA de capturar pessoas em países estrangeiros e levá-las sabe-se lá para onde, onde são interrogadas com uso de técnicas que são consideradas de tortura.
Claro que isto só é possível com a cumplicidade de gente com poder dos países onde acontece. Digo gente com poder para não dizer mesmo os respectivos governos, os respectivos serviços secretos, as respectivas polícias, os respectivos militares.

Esta cumplicidade é oculta, é sempre negada, mas existe e é eficaz.
Como é que é possível esta cumplicidade.

É o «american soft power».

sexta-feira, dezembro 2

O orçamento reduzido

Tony Blair foi passear ao continent, falar com os governos dos países recém aderidos, para os tentar convencer a aceitar uma redução do orçamento da UE que se traduziria inexoravelmente na redução dos subsídios que iriam receber. Tinha, com certeza, esperança em que o anglo-americanismo deles os faria aceitar. Mas não, não aceitaram e protestaram contra a falta de solidariedade dos ricos. Parece, agora, que Blair já está conformado a ver reduzido o british rebate. Vai ser - já está a ser - atacadíssimo at home por causa disso. Ainda assim, não é bom - é pessimo - que orçamento comunitário seja reduzido, em vez de ser aumentado. Como é que vai ser possível, como menos dinheiro, fazer tudo o que tem de ser feito por dez países arruinados pela guerra fria, como é que vai ser possível pacificar e reconstruir os balcans, como é que vai ser possível lançar as bases de uma política de defesa e segurança comum, de uma política externa comum, como é que vai ser possível manter e desenvolver o futuro da Europa com um redução do orçamento? Não pode ser assim...

quarta-feira, novembro 30

Terror camps

Antigamente chamavam-se campos de concentração. Agora chamam-se campos de terror. Não está mal. Estou curioso de saber onde ficam na Europa, haverá algum em Portugal? Vejamos como é que isto acaba.

segunda-feira, novembro 21

Até que enfim !

Finalmente, alguém - no caso, Freitas do Amaral, na qualidade de Ministro dos Negócios Estrangeiros português - disse aquilo que era preciso dizer: que a Presidência Inglesa não fez rigorosamente nada para conseguir o novo orçamento da União. Foi muito claro, graças a Deus.
A Inglaterra quer transformar a UE na EFTA. Alargar o mais possível e desaprofundar através do naufrágio do orçamento. Faz isso com má fé e sem pudor.
É preciso começar a pensar se não será melhor dar à Inglaterra o estatuto de associado, em vez e membro do União Europeia. Não é possível continuar a ter o cavalo de Tróia dentro de casa e fingir que não está lá.
Vejamos como é que a Inglaterra responde.

sexta-feira, novembro 18

Faz lembrar John Le Carré

É fantástico como se descobriu só agora - foi o Washington Post - que a CIA tem instalados vários campos de concentração na Europa, alguns em Países da UE, sem que se saiba quantos, onde, como, e com autorização de quem. A CIA manda directamente nos governantes, nos militares, nas polícias ... em quase toda a gente que está em lugares de poder. É o «american soft power» em todo o seu esplendor.
Hoje morreu o primeiro (espero que seja o último) soldado português (sargento comando) no Afganistão, ao serviço do Estados Unidos.
É deprimente passar de império colonial para colónia. Maldita e desprezível gente que assim o deseja, que assim o permite e que assim o faz!

quinta-feira, novembro 10

Um silêncio espesso

Este blog tem como tema principal o futuro da União Europeia. Depois do congelamento da Constituição, parece que é proibido falar no assunto. Nem sequer na pré-campanha presidencial se ouve falar nisso. É estranho este silêncio espesso! A agitação em França não tem interesse? A adesão da Turquia não se tornou mais problemática? Vai finalmente entrar na compreensão de todos que a Europa não é uma Respublica Christiana? Silêncio! Será verdade que há campos de concentração americanos em no território da União? Ou no de candidatos à adesão? Mais silêncio! É estranho, muito estranho, é mesmo inquietante!

sábado, agosto 27

Tudo na mesma

Depois do discurso de Blair, na inauguração da sua presidência, fiquei à espera do que dali sairia.
Em vão: não se passou nada.

quinta-feira, junho 2

Foi mesmo...

Aconteceu mesmo.
É a lei de murphy: tudo o que puder correr mal, corre mesmo mal.
E correu.
Como se previa, foi a xenofobia (não aos polacos e aos turcos), foi o egoismo (porquê partilhar o que nós temos com os outros que não têm), foi o oposicionismo (como não se gramam os governantes, vota-se contra).
A nova geração europeia nasceu já podre de rica, podre de estragada, podre de mimada.
Não sabe o que é solidariedade e não quer ouvir falar.
Tranquem a porta... apaguem a luz... soltem o cão...
Vai ser precisa muita paciência, muita persistência, muita insistência, muita resistência.
Sobretudo, common sense!

sábado, maio 28

A falácia do argumento soberanista

Não é o Tratado da Constituição Europeia, mas sim a própria União Europeia, o próprio movimento de integração Europeia, que reduz a «soberania do Estado Português».
A perda de «soberania do Estado Português» não é imputável a este Tratado Constitucional, mas sim à própria participação de Portugal na União Europeia.
O argumento soberanista conduz à saída de Portugal da UE, ao «opting out».
Gostaria, depois, de ver o que seria da «soberania do Estado Português» fora da UE! Primeiro, falia financeiramente; depois, passaria a ser governado pelo FMI; finalmente, na ânsia de receber capitais que lhe permitissem sobreviver financeiramente, abrir-se-ia a todas a máfias.
Se é isto o que se quer com o argumento soberanista, não obrigado, prefiro votar a favor do Tratado da Constituição Europeia.
Mas há mais: o que me interessa não é a «soberania do Estado Português»: é a soberania pessoal dos portugueses, de cada um deles, assim como dos europeus, também de cada um deles.
Se deixarmos o conceito napoleónico-romântico de «soberania do Estado» (em que assenta o argumento soberanista) e que foi históricamente responsável por muitas guerras e milhões de mortos na Europa, e adoptarmos o conceito de «soberania pessoal» - que é o correcto - veremos como a União Europeia e este o Tratado da Constituição e aumentam imensamente.
Vejamos: com a UE e mais ainda com esta Constituição, eu próprio, cada um dos portugueses, cada um dos europeus, passa a ser um cidadão soberano em todo o território europeu.
A minha soberania pessoal, a minha cidadania, deixa de acabar na fronteira do Caia, ou de Vila Real de Santo António, ou do Aeroporto: passa a ir até aos confins da Polónia, da Lituânia e, futuramente, ainda mais longe.
A minha cidadania, a nossa cidadania, aumentam enormemente.
Soberania pessoal é sinónimo de cidadania.
É a minha e a nossa cidadania que têm a ganhar com a Constituição Europeia.
Votemos, pois, a favor da Constituição da Europa, para garantir e aumentar a cidadania de cada um de nós, a nossa verdadeira soberania!

Na véspera do dia do sim ou do não em França

Vai ser amanhã, em França.
Prevê-se e receia-se o pior: o não.
Segundo as sondagens, são a extrema esquerda, a extrema direita e os blue collars que vão votar não. Tal como foram os red necks a votar Bush.
É o domínio da irracionalidade e da estupidez.
Todavia o common sense mandaria votar sim.
A integração europeia evitou guerras na Europa, promoveu o progresso e a abundância, construíu o estado social, liberalizou a economia. Mais do que tudo, criou as bases da construção de uma República da Europa, com democracia interna e credibilidade externa.
O colapso da integração europeia trará a balcanização da Europa. O não, se vier a a contecer terá de ser responsabilizado, política e moralmente.
Não haverá desculpas nem alibis.

domingo, maio 22

Bom senso

É de bom senso, é mesmo de senso comum, que quando a UE está a ser crescentemente posta em causa, se evite o triste espectáculo da ganância (greed) com que cada representante de cada Estado tenta reduzir a sua contribuição e maximizar a sua vantagem. Parece muito claro que os actuais representantes dos actuais membros não estão á altura das suas responsabilidades. É necessário mudar de estado de espírito e de atitude. Não é assim que se constrói a Europa Unida... ou não o é com estes protagonistas.

Europa:sim. O não assenta em xenofobia, egoismo e atlantismo.

Aqui começa a minha participação pessoal do debate sobre a Constituição Europeia.
Deixo já aqui claro que vou votar a favor da Constituição Europeia. Para Portugal, para Europa, para os europeus e para mim, não entendo como se pode votar não, com razões aceitáveis. Tanto quanto tenho visto e ouvido até agora, as razões do «não» são todas axiologicamente negativas:
  • Xenofobia: tentativa de manter a Europa livre de povos e culturas supostamente inferiores: islâmicos, de leste, de áfrica, etc. Até já vi, no sul de França, reacções xenófobas contra Portugueses!
  • Egoísmo: os mais ricos, nas zonas mais ricas, não querem partilhar a sua riqueza com os pobres das zonas mais pobres. No fim da guerra, franceses, holandeses, noruegueses eram pobres, mas solidários. Há agora uma nova geração que já nasceu rica e é incrívelmente egoista. Não quer partilhar o que quer que seja com quem quer que seja.
  • Atlantismo: finda a segunda guerra há 60 anos e a guerra fria desde a queda do muro, os USA já não precisam da Europa e da UE para a sua defesa. Querem, agora, desmembrar a UE para colonizar os países europeus, um por um, fracos e divididos, através do chamado «american soft power» (ASP). O american soft power é composto por políticos e «opinion leaders» que entendem que a Europa não deve ser autónoma, mas antes acessória e ancilar dos USA. O atlantismo tem como conteúdo político-ideológico o reconhecimento da superioridade e da liderança americana sobre a Europa e tende para a satelitização ou colonização dos países europeus pelos USA. São estas a razões que eu vejo como subjacentes ao voto «não».
Naturalmente, surgem mascaradas por cripto-argumentos contraditórios: acusa-se a Constituição Europeia de ser de direita (hiper-liberal) e simultaneamente de esquerda (hiper-social). Nunca, porém se explicita porquê. Por outro lado, não se diz o que fazer se a Constituição Europeia não for aprovada: manter o «status quo»? Reformular o texto e recomeçar o processo de aprovação? Em que sentido e com que alterações? Parece-me que se quer simplesmente fazer abortar o processo de integração europeia. Admito, contudo que os partidários do «não» me convençam com os seus argumentos. Vou passar a acompanhá-los e a debatê-los. Aqui está o convite.